domingo, 5 de dezembro de 2010

Debate sobre Cultura de Consumo, Sociedade do Espetáculo e Pós-modernismo

Texto de Mateus Neto.

O termo pós-moderno é definido em contraposição ao termo moderno, apoiando-se em sua negação perante o pós-moderno num rompimento e/ou afastamento, ou até mesmo no abandono perceptível das características decisivas do moderno, marcando um sentido de deslocamento relacional. Historicamente o conceito de modernidade surgiu com o Renascimento no enfrentamento teórico em relação à Antiguidade e a Idade Média. A modernidade contrapõe à ordem tradicional confrontando a progressiva racionalização e diferenciação econômica e administrativa do mundo social, resultando na formação do moderno Estado capitalista-industrial que muitas vezes foi visto como antimodernista.
Acredito que a passagem da modernidade para uma tal pós-modernidade envolve a emergência de uma nova totalidade social atrelada a uma sociedade pós-industrial com um novo formato tecnológico, computadorizada. Seria a era da tecnologia da informação(?), tornando-se modelo de uma nova ordem social, indicativo de uma nova disposição de espírito, um estado de mente pós-moderna, voltada então para a globalização e seus efeitos – os espaços virtuais e toda sua mega possibilidade de construir, gerir e agregar empreendimentos? Featherstone (1995) comenta que o termo pós-moderno seria indicativo de uma periodização, uma mudança de época atrelada a uma nova lógica cultural de um capitalismo tardio, “(...) cuja origem está na era posterior à Segunda Guerra Mundial” (p. 21).
O sentido de pós-modernidade indica um estado de mente, de espírito e assinala o uso de uma “experiência de modernidade” como uma qualidade da “vida moderna”, um sentido de descontinuidade do tempo, de rompimento com a tradição e uma efemeridade fugaz do presente. Na experiência pós-moderna a realidade é transformada em imagens e o tempo é fragmentado numa série de presentes perpétuos, ou seja, o tempo presente.
Um contexto onde se usa com bastante relevância o termo pós-modernização é o campo dos estudos urbanos e culturais. Visto como um processo dinâmico e marco de uma nova etapa da sociedade capitalista, esses estudos focalizam processos de produção e consumo ao mesmo tempo em que a dimensão espacial de práticas culturais específicas: revitalização de áreas centrais das cidades (gentrification), orlas marítimas, o desenvolvimento de pólos artísticos e culturais, estilos e modos de vida, formação de identidades, expansão de setores de serviços, recuperação, restauração e revalorização de áreas urbanas deterioradas, etc. A centralidade da cultura é comum a todos esses temas de estudos e o valor de troca cultural só pode se formar como agente do valor de uso. Entretanto, a mobilidade e satisfação do uso conseguem dirigir o processo de troca cultural e a levar para novas bases.
Nesse debate proposto aqui, o que se observa é que tanto Featherstone (1995) quanto Debord (1997) enfatizam é que dentre as características centrais associada ao pós-modernismo, as artes e os estilos de vida dos artistas se apresentam como pano de fundo aplicado a esta discussão, refletindo, portanto, num processo de alargamento ou mesmo abolição dos campos de fronteira entre a arte e a vida cotidiana desde os anos do entre-guerras e a contracultura dos anos sessenta. Com efeito, a utilização dos termos modernismo e pós-modernismo designam complexos culturais mais abrangentes: o ideal do indivíduo autônomo.
O conceito de pós-modernismo está atrelado às mudanças e nas experiências e práticas culturais cotidiana de grupos sociais mais amplos, antes consideradas experiências pouco importantes. Neste processo está envolvido a perda de sentido do passado histórico, substituição da realidade por imagens, simulações, significantes desencadeados, etc. Numa visão pós-moderna a cultura de consumo tem como premissa a expansão da produção capitalista de mercadorias “(...) que deu origem a uma vasta acumulação de cultura material na forma de bens e locais de compra e consumo. Isso resultou na proeminência cada vez maior de lazer e das atividades de consumo nas sociedades ocidentais contemporâneas, fenômeno que embora sejam bem-vistos por alguns, na medida em que teriam resultado em maior igualitarismo e liberdade individual, são considerados por outros como alimentadores da capacidade de manipulação ideológica e controle ‘sedutor’ da população, prevenindo qualquer alternativa ‘melhor’ de organização das relações sociais” (Featherstone, 1995, p. 31). A lógica da sociedade de consumo, se é que o consumo possui uma “única” lógica, aponta para os modos socialmente estruturados de usar bens para demarcar as relações sociais e transmitir mensagens em contraponto aos conceitos de classe social. O modo como as mercadorias são utilizadas demarcam fronteiras e as relações sociais. O consumo, nesse sentido, está associado aos modos de manusear e consumir bens culturais, mercadorias-signos: roupas, comida, bebidas, atividades de lazer etc. E precisam está inscritos no mesmo espaço social do consumo cultural cotidiano. O espetáculo, portanto, inverte o real e torna-se o produto, a especialização do poder, a forma de se comunicar uns com os outros e a sociedade em geral.
A aparência fetichista nas relações nesta sociedade pós-moderna ou do espetáculo, ou qualquer outro tipo de desconstrutivismo que queiram chamar, tenta esconder nas relações espetaculares o seu caráter de relação entre os homens e entre as classes sociais. O mundo do espetáculo ou pós-moderno é o mundo em que as mercadorias-signos ocupam totalmente a vida social, pois são as mercadorias que regem as relações sociais, identidades e estilos de vida desde os marcadores da Segunda Guerra Mundial e o período do entre guerras.
A produção econômica moderna espalha intensivamente uma ditadura das mercadorias-signos que fazem parte de um jogo publicitário, onde os designs, comunicadores sociais e os meios de comunicação de massa em geral ditam essa moda.
É perceptível que a preferência de consumo e estilo de vida são marcadores de grupos distintos, e produz um efeito de perseguição pelos diferentes e a sociedade, pois envolvem julgamentos discriminadores que identificam nosso próprio julgamento de gosto ao mesmo tempo em que torna possível de ser classificado pelo outros. Portanto, por meio dos símbolos os grupos apresentam sua forma de transmitir sinais adequados e legítimos por meio de suas atividades de consumo, as quais os grupos usam bens simbólicos para estabelecer diferenças e identidades. A sociedade ocidental contemporânea produz e reproduz “(...) imagens e locais de consumo que endossam os prazeres do excesso. Essas imagens e locais promovem ainda um embaçamento da fronteira entre arte e vida cotidiana (...) (Featherstone, 1995, p. 42)”. processando elementos retóricos que formam identidades fluidas e hibridas e uma estilização e estetização da vida cotidiana. Espero que alguém me auxilie nesse debate.
REFERÊNCIAS
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, RJ: Contraponto, 1997.
FEATHERSTONE, Mike; SIMÕES, Julio Assis (Trad.). Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo, SP: Studio Nobel, 1995.