sexta-feira, 24 de junho de 2011

Projeto Juventudes no contexto transnacional dos países da CPLP: processos de identificação, expressões culturais e mediações

 Durante a semana entre 26 de junho e 02 de julho, estaremos reunidos na UFS (São Cristóvão), com os professores Lorenzo Bordonaro (Portugal), Neusa Gusmão (Brasil), Cláudio Tomás (Angola), Jandira Barros (Cabo Verde) e Miguel Barros (Guiné Bissau), com o objetivo de criar condições para pesquisa conjunta e a criação de uma Rede entre pesquisadores dos diferentes países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, em torno de preocupações comuns sobre a questão das juventudes e de uma postura metodológica projetada para o diálogo com um corpo conceitual norteado desde as Teorias do Pós-colonialismo, dos Estudos Culturais e dos estudos sobre Diásporas, pretendendo estimular o intercâmbio e aprofundamento de nossas reflexões e pesquisas, tanto em questões específicas no âmbito da CPLP, quanto em temas sócio-antropológicos passíveis de conexões, de contrastes ou de comparações. No dia 27, faremos uma primeira reunião de apresentação do pessoal envolvido e de nossas atividades de interesse; no dia 28, pela manhã, daremos continuidade a reunião, procurando tirar alguns encaminhamentos, dividindo tarefas futuras para elaboração de um projeto conjunto, além de planejarmos o próximo encontro que ocorrerá em Lisboa. Na parte da tarde, do dia 28, encontraremos com alguns jovens africanos que estudam em Aracaju e teremos um encontro com alguns jovens ligados ao hip-hop. Nos dias 29/30 de junho teremos o tempo livre para conhecermos a cidade e a universidade e escrevermos os primeiros encaminhamentos. No dia 01 de julho,  às  14h30m  faremos uma mesa redonda apresentando nossas pesquisas recentes e nossas possibilidades de interlocução com o projeto (esta mesa será formada por representante de cada país, no projeto, falando de suas experiências pessoais com o tema). No dia 02, sábado, encerramento com confraternização. A Mesa Redonda de sexta-feira, 01 de julho, será aberta ao público em geral, no Auditório da Didática V, na UFS. As outras atividades são restritas aos convidados e ao Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relações Interétnicas.  O projeto foi aprovado pelo CNPq e é realizado com o financiamento do Edital CPLP/2010, Chamada I: Missões Exploratórias. O segundo encontro será realizado em Portugal, no mês de outubro.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mural | A opinião dos jovens

Mural | A opinião dos jovens
O blogue Mural - Opinião dos jovens (link acima) é um interessante mecanismo de valorização da opinião pública de jovens jornalistas, intelectuais, professores, ligados aos movimentos sociais, entre outros. Está relacionado ao site do jornal Público, de Lisboa. Ontem houve eleições em Portugal e aí está um outro lado da opinião.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

ÍNDIOS E ICONOGRAFIA DIDÁTICA: ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES EM MANUAIS DE HISTÓRIA DO PNLD 2011

(por Diogo Monteiro)

O texto que segue apresenta as propostas de um projeto de pesquisa, que estuda as formas de representação dos índios, a partir das imagens inseridas nos livros didáticos aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), edição 2011. O objetivo central é analisar as formas de representação elaboradas pelos autores de manuais escolares de história acerca da cultura e modos de vida indígenas. Pretende-se, ainda, perceber como consumidores de livros escolares, professores e alunos de escolas públicas estaduais da cidade de Aracaju, apropriam-se dessas imagens e constroem suas impressões sobre os índios.
Ao inserir nossas reflexões no interior dos debates acerca das implicações político-pedagógicas geradas pela instituição da Lei 11.645/08, que estabelece a obrigatoriedade da inclusão de conteúdos de História e Cultura indígenas no currículo de escolas do ensino básico, públicas e particulares do Brasil, levantamos os seguintes questionamentos: em que medida os conteúdos das imagens e dos textos dos livros didáticos, avaliados e distribuídos pelo PNLD 2011, refletem as disposições da Lei 11.645/08? Os autores de livros didáticos, a partir de uma visão relativizadora, atendem aos imperativos de respeito à diversidade cultural indígena e valorização das suas contribuições à formação da sociedade brasileira? Ou perpetuam a visão eurocêntrica sobre seus costumes e modos de vida? E, no âmbito das práticas de ensino-aprendizagem escolar da história, como professores e alunos têm reagido à introdução destas inovações legislativas nos livros didáticos que consomem? De que maneira estes manuais têm influenciado na construção de suas representações sobre a alteridade indígena?
Será relevante para o desenvolvimento da investigação o diálogo com o conceito de livro didático difundido pelo professor Kazumi Munakata, que afirmou: “O livro didático é um artefato de papel e tinta, costumeiramente utilizado em situações didáticas.” (MUNAKATA, 1997, p. 84). Ele, porém alerta: “não são meramente ideias, sentimentos, imagens, sensações ou significações que o texto possa representar. Nem tampouco é o texto em abstrato, pois esse texto de que as pessoas normalmente veem apenas ideias, sentimentos, imagens, etc., é constituído de letras (confeccionadas com tinta sobre o papel) segundo uma família de tipo (ou face de tipo ou fonte), que lhes dá homogeneidade. ”(id.,).
Já a imagem, elemento de imprescindível importância na constituição da materialidade dos impressos, será aqui entendida não como o “real”, mas pelo menos, como o seu “analogon” perfeito. Impregnada desta perfeição analógica da realidade, a imagem comporta duas mensagens: uma mensagem denotada, o próprio “analogon”, e uma mensagem conotada, a maneira pela qual a sociedade oferece à leitura, dentro de certa medida, o que ele pensa (BARTHES, 1990, p. 12-13).
Desta forma, entendemos representação, a partir de Foucault (1970 apud BURKE, 2004, p. 219), como uma imagem cuja produção e significado não se restringem à reprodução da realidade em si mesma, e que estão intimamente vinculadas às normatizações da sociedade. Em síntese, ela seria “uma imagem verbal ou pictórica de algum objeto, feita de acordo com um determinado conjunto de convenções”, que interessavam mais do que a maior ou menor fidelidade com a qual o objeto foi descrito ou pintado.
Esta pesquisa terá como fontes fundamentais para a extração de dados, alguns dos manuais listados no Guia do Livro Didático do PNLD 2011, selecionados pelos professores e gestores de escolas de Ensino Fundamental da rede pública estadual da cidade de Aracaju.
A triagem das obras a serem analisadas nesta investigação, seguiu o critério dos títulos do 7º ano mais adotados durante o processo de avaliação e escolha dos livros didáticos pelos professores e gestores de escolas públicas estaduais da cidade de Aracaju, a partir do Guia do Livro Didático do PNLD 2011.
Optamos por analisar os volumes dos livros didáticos do 7º ano do Ensino Fundamental, por neles estarem, geralmente, contemplados de maneira mais recorrente, os conteúdos de cultura e história indígena, quando trata, mais especificamente, do período colonial da história do Brasil e da América.
Efetivada a seleção das obras didáticas, realizaremos a classificação dos tipos de imagens inseridas em suas laudas (desenhos, gráficos, pinturas, xilogravuras, litogravuras, fotografias, reproduções, entre outros), pelo fundamento dos níveis de iconicidade, em que cada imagem possui um potencial expressivo e certa carga informacional.
As representações acerca dos povos indígenas, elaboradas pelos autores de livros didáticos alvos da investigação, serão percebidas através de uma análise conjunta dos conteúdos das imagens, legendas e textos nucleares.
Após a conclusão desta fase, cruzaremos as informações extraídas da descrição e da análise das imagens e dos textos para percebermos o nível de conexão entre as visões sobre os índios presentes simultaneamente nos textos visuais e verbais, que conformarão o universo dos significados tecidos pelos autores dos livros didáticos.
Coletaremos amostragens entre professores e alunos da área urbana de Aracaju. A comunidade escolar que habita esta região, distanciada territorialmente de comunidades indígenas, constitui um público privilegiado para a captação de impressões específicas e originais sobre os índios, que são construídas, primordialmente, a partir de leituras e interpretações das imagens e textos dos livros didáticos de história, seus principais meios de contato com estes povos e seus modos de vida.
Serão gravadas e filmadas entrevistas com 4 professores e 8 alunos do 7º ano de 4 instituições de Ensino Fundamental de Aracaju. Os depoentes serão submetidos a roteiros de entrevista de memória oral, que tratarão das suas trajetórias de vida (familiar, estudantil e profissional) e de aspectos relacionados aos processos de escolha, usos e apropriações do livro didático de história, principalmente, no que se refere às imagens sobre os índios inseridas em suas laudas.
Efetivaremos ainda a etapa de transcrição das entrevistas, a passagem dos depoimentos coletados da forma oral para a escrita. A partir destas transcrições, realizaremos a leitura, seleção e escolha dos trechos mais importantes das falas dos entrevistados, que servirão como base para a extração e interpretação das informações disponibilizadas.
O primeiro capítulo da pesquisa tratará da apresentação formal dos livros didáticos. Realizaremos uma breve exposição das características gerais das imagens sobre os índios, destacando o lugar que elas ocupam no interior das laudas, sua distribuição por unidades e capítulos, as tipologias, cores e temáticas mais recorrentes. Numa seção posterior, observaremos a construção das representações sobre os índios elaboradas pelos autores, a partir da conexão analítica entre imagens, legendas e textos base de seus livros didáticos.No segundo tópico, realizaremos breve exame das características epistemológicas dos livros didáticos, para compreendermos, ainda que residualmente, qual a concepção de História ou paradigmas historiográficos e sócio-antropológicos esses livros representam ou privilegiam.
No segundo capítulo, apreciaremos, pelos dados coligidos das entrevistas com professores e alunos, os critérios de avaliação e escolha dos manuais adotados, bem como as formas de uso e apropriação em situações didáticas das suas imagens sobre os índios.
No terceiro e último capítulo, exporemos as impressões dos professores e alunos acerca das culturas e modos de vida indígena, destacando a sua constituição por intermédio dos suportes imagéticos introduzidos nos manuais escolares de história analisados.

Referências
BARTHES, R. O óbvio e o obtuso: ensaios críticos III. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990
BURKE, P. Testemunha ocular: História e imagem. Bauru, SP, EDUSC, 2004.
MUNAKATA, K. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. São Paulo, 1997. Tese (Doutorado em História e Filosofia da Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
BRASIL, Presidência da República. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade dos estudos de história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, no Brasil. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 mar. 2008.

Fontes a serem consultadas
COTRIN, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Saber e Fazer História – História Geral e do Brasil. São Paulo: Saraiva Livreiros Editores. 2009.
JÚNIOR, Alfredo Boulos. História Sociedade e Cidadania – Nova edição. 7º ano. São Paulo: Editora FTD. 2009.
PILETTI, Nelson; PILETTI, Claudino; LEMOS, Thiago Tremonte. História e vida integrada. 7º ano. São Paulo: Editora Ática. 2009.
VICENTINO, Cláudio Roberto. Projeto Radix – História. São Paulo: Editora Scipione. 7º ano. 2009.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Juventudes e cinema no Brasil: memórias da ditadura militar

Mais de 40 anos depois do golpe militar ocorrido no Brasil, em 02 de abril de 1964, Barros (1994) acredita que a memória do regime ditatorial que se seguiu a ele pode parecer apenas um amontoado de generais-presidentes que desfilam de forma impositiva pela história do Brasil. Porém, há outras memórias sobre o período que buscam ser compartilhadas, já que a produção de uma memória supõe que outra foi silenciada, ou apenas não evidenciada.

O presente texto busca apresentar algumas questões sobre o meu projeto de dissertação de mestrado em antropologia, ainda em fase inicial. Partindo da ideia de que a ditadura militar é um tema que ainda mereça muita discussão e que, geralmente, tem apenas um lado mais divulgado, principalmente aos jovens, o trabalho busca analisar o cinema como um mecanismo de disseminação de memórias às juventudes de hoje sobre o período no Brasil.

As formas pelas quais o país passou da ditadura para a pós-ditadura, lenta e sem julgamento devido, “provocam diferentes imposições de silenciamento sobre os crimes cometidos” (SOUZA, 2008, p. 58). A questão das memórias da ditadura no país pode ser discutida através do que nos diz Pollak, que aponta o retraimento de lembranças sobre eventos e experiências traumáticas (POLLAK apud SOUZA, 2008, p. 58).

O cinema, devido o uso de imagens e a maneira com que se comunica com o espectador, além de ser uma forma de entretenimento, é um importante mecanismo de transmissão de informação. Imagens postas, dispostas podem ou não provocar reflexões e ser promotoras e construtoras de memórias. Neste caso, memórias com o sentido atribuído por Halbwaschs: como leituras do passado elaboradas no presente, sendo individuais e coletivas ao mesmo tempo. “O processo de rememoração provocado pela linguagem fílmica é ainda mais marcante” (ZANINI, 2008, p. 4) pela possibilidade de comunicação e facilidade de contar uma história.

Até o momento, o objetivo principal da pesquisa é entender como e de que forma o cinema pode revelar à juventude de hoje uma nova perspectiva sobre o período ditatorial brasileiro, diferente daquela contada pela história oficial e livros nas escolas, entendendo que a memória é um importante mecanismo de manipulação e criação de identidades. Dentre os objetivos específicos, a dissertação pretende também analisar como o cinema brasileiro trabalha com a temática, entender como o cinema produzido no país lida com a juventude e analisar a forma que obras transmitem uma história.

A pesquisa busca encontrar, a partir de uma interpretação da arte cinematográfica, uma sensibilidade maior sobre o período analisado, compreendendo como tais memórias individuais podem se tornar importantes para a criação da memória coletiva. Para Geertz (1997), a capacidade de uma arte fazer sentido varia de indivíduo para outro, é, como todas as outras capacidades plenamente humanas, um produto da experiência coletiva que vai bem mais além dessa própria experiência. O diálogo entre cinema, história e memória (SANTOS, 2009) é possível devido a importância que os filmes têm hoje na vida das pessoas. A arte faz parte da vida e não há outro meio de interpretá-la senão dentro do curso da vida do mundo (GEERTZ, 1997). No caso das obras cinematográficas sobre a ditadura militar, “os filmes organizam imaginativamente, pela emoção, uma memória suplementar, a qual se refere tanto àquele passado como aos momentos posteriores” (SOUZA, 2008 p. 51).

Os filmes selecionados para análise serão a partir do período conhecido como “retomada do cinema brasileiro”, em 1995. No primeiro momento, no qual se encontra a presente pesquisa, está sendo realizado um levantamento bibliográfico e filmográfico para concluir a metodologia, além de entender a relação entre memória, cinema e antropologia. A princípio, o passo seguinte é analisar a relação do jovem com o cinema brasileiro, a partir do levantamento de filmes feitos para a juventude e a recepção deles pelo público, pesquisando dados como bilheteria, temáticas e a forma como o jovem é retratado.

Em seguida, haverá uma discussão de aspectos da ditadura militar no Brasil, além de um estudo de como os filmes nacionais tratam o tema, analisando obras consideradas importantes devido a temática, seu sucesso e a história por trás de sua produção, como Batismo de Sangue e Ação entre Amigos.

Por último, será demonstrado como o cinema pode ajudar a contar outra história da ditadura no país, disseminando diferentes memórias para a juventude e como ela a recepciona, a partir da análise da linguagem, da narrativa, dos atores, das histórias e também da carreira cinematográfica, a recepção e a opinião dos jovens.

Barbosa (1999) acredita que o cinema e a antropologia têm estabelecido um intenso diálogo ao longo de suas histórias, sendo um deles compreender as relações entre a produção imagética de uma sociedade e sua própria vida social. Sem cair ingenuamente no engano de considerar o cinema como espelho da vida, procura-se caminhos para desvendar essa complexa relação entre arte e vida

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARBOSA, Andréa C. M. Marques. Ana Lúcia Andrade. O filme dentro do filme. Revista de Antropologia, 2000. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012000000100013. Acesso em outubro de 2010.
BARROS, Edgar. Os governos militares. São Paulo: Editora Contexto, 1994.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro: Estudos históricos, 1989.
SOUZA, Maria Luiza Rodrigues. Tese de doutorado: Um estudo das narrativas cinematográficas sobre as ditaduras militares no Brasil (1964 – 1985) e na Argentina (1976 – 1983). Brasília: Universidade de Brasília, 2007.
ZANINI, Maria Catarina Chitolina. Por que cinema com antropologia? Breve relato de uma experiência etnográfica de recepção fílmica. UFSCAR, 2008.