sexta-feira, 1 de junho de 2012

Resenha Appadurai

 Juliana Almeida, Gregorio Cerqueira e Mirtes Rose Menezes

APPADURAI, Arjun. Etnopaisagens globais: notas e perguntas para uma antropologia transnacional. In: Dimensões culturais da globalização. Lisboa: Teorema, 2004.
Appadurai utiliza um neologismo – etnopaisagem - para abrir a discussão a respeito das etnografias. A forma como o autor coloca, permite verificar o “ângulo” do qual esses trabalhos tão freqüentes na Antropologia são elaborados. A que medida a posição do observador é modificada a forma de ver o objeto (grupo) a ser estudado é modificado, as representações são modificadas. À medida que o grupo também muda, sejam essas mudanças sócio-espaciais e cultural na perspectiva da identidade, todas as representações se configuram em novas, colocando o trabalho etnográfico sem bases concretas que o sustente. Preocupado com essas mudanças dentro do binômio tempo/espaço, o autor faz analises, a cerca dos desafios e da posição do que ele chama de cosmopolitismos etnográfico, onde a partir dessa visão o produto cultural, é resultado de um processo de desterritorialização que vai além dos limites e das fronteiras políticas dos territórios físicos. Esse processo de desterritorialização alimenta o imagético, principalmente daqueles que deixaram os seus territórios, abrindo uma possibilidade de apropriação do capital para realizar essa fantasia de levá-los a “terra dos seus sonhos”.
Mediante ao que foi exposto, Appadurai faz uma analise dos estudos culturais em terreno global, pois a cultura constitui-se em um conceito central na Antropologia. Para que os antropólogos possam entender o mundo dentro desse contexto de desterritorialização, tem que extrapolar as fronteiras da etnografia tradicional, fazendo as suas constatações em um campo global, sem as delimitações, mas vivido e onde as relações acontecem. Para tanto, Appadurai, esclarece mencionando a importância dos meios de comunicação de massas que nos coloca em contato com o “mundo” gerando dessa forma a introdução de elementos (não pertencentes as suas estruturas originais), mas que alteram a existência local. Para melhor compreensão, o auto, cita três exemplos: o primeiro, uma visita a Índia, acompanhado por sua companheira que é norte americana, o filho mais novo, o irmão e outros membros de uma comitiva que faziam parte de um ritual, para o casamento da sua sobrinha, para a consolidação da suas analises a cerca das desterritorialidades e da etnografia cosmopolita as imagens formuladas eram bem diferentes da realidade.
No segundo exemplo, Appadurai cita um conto de Cortázar, onde é narrado o esforço do atleta com relação as piscinas. É um exemplo baseado nas “forças” que tencionam a chegada da superação ou as limitações impostas pela natureza com relação ao fluxo de ir e vir, mas que para atingir o objetivo, muitos atletas acabam acarretando sérios problemas ou indo ao óbito. Quando nos remetemos ao campo das relações culturais, percebemos como os fatos podem ganhar certas conotações a depender da localidade o qual estão inseridos e dessa forma se justificam as singularidades. No terceiro e ultimo exemplo, o cinema entra em cena com India Cabaret, que narra a historias das mulheres que migram dos seus territórios e tornam-se dançarinas. O mais importante para Appadurai, é a forma como o filme expõe a imaginação dessa mulheres, no que diz respeito à nova vida fora do seu território contribuindo para essa visão de mundo desterritorializado.
Algumas reflexões foram feitas conduzidas pelo texto de Arjuna Apadurai: o termo etnopaisagem é usado para se referir aos velhos dilemas da antropologia, como a influencia das tradições de percepção e perspectivas e o local do observador para o processo de produção das representações, somado com as novas configurações sociais em mudança. Esse processo de mudança, influenciados pela globalização, coloca os grupos sociais em desterritorialização que afeta diretamente, segundo Appadurai, a base da representação cultural. Aponta ainda, uma nova dimensão deve ser estudada pelo antropólogo: a influência do cosmopolismo.
Dessa forma a antropologia e a etnografia se encontram diante de um desafio metodológico: como trabalhar a produção das representações em culturas deslocadas? Existe um esforço da etnografia para aperfeiçoar sua metodologia nesse novo cenário, entretanto para o autor não é o bastante, segure mudanças mais estruturais e sugere ainda uma etnografia genuinamente cosmopolita. Outro ponto que Appadurai levanta é o espaço que a imaginação tem ganhado na vida das pessoas e consequentimente na realidade social. Antigamente a imaginação só serviria como fuga da vida real, mas com o desenvolvimento da mídia e os meios de comunicação de massa associados às possibilidades de consumo, ambos os frutos do capitalismo global, proporcionaram a realização de ações que se restringiam ao mundo das idéias.
Do modo como o autor ressalta o crescimento da importância da imaginação pode-se pensar que a representação da vida social, que é uma idéia, ganha mais foças nas áreas que tratam da imaginação como a arte de forma geral e a literatura especificamente, que de certa forma reforça o que os estudos culturais vem utilizando e de certa forma o autor coloca que os estudos culturais está na frente da etnografia para compreender dilemas da representação sociais na atualidade.

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