sexta-feira, 1 de junho de 2012

Resenha Stuart Hall

 Juliana Almeida, Gregorio Cerqueira e Mirtes Rose Menezes

HALL, Stuart. Para Allon White: metáforas de transformação. HALL. Stuart. Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: EdUFMG/Humanitas, 2003.

Hall faz uma reflexão em torno da obra A política e a poética da transgressão, de Peter Stallybrass e Allon White, que explora as categorias culturais ‘alto/baixo’ e sua predominância na Europa. O autor fala das metáforas da transformação e lança hipóteses sobre o que aconteceria se os valores culturais predominantes fossem transformados e novos significados socioculturais surgissem. Essas metáforas devem ter uma preocupação analítica para se entender as relações entre os domínios social e simbólico nos processos de mudanças.
 Uma crítica às idéias da classe dominante de Marx é feita por Hall, que relaciona à força material com a força intelectual – uma das metáforas clássicas de transformação. A teoria cultural já abandonou esse ponto de vista marxista e trata a questão social e simbólica na perspectiva de um ‘jogo’ entre poder e cultura. Esta referência à cultura ‘alta e ‘baixa’ não é recente, mas ainda nos é atual quando há a ameaça da ‘cultura minoritária’ pela presença constante da cultura de massa mercantilizada.
Stallybrass e White se apóiam na idéia de Bakhtin sobre o carnaval para dar uma noção de ‘transgressão’ dessa dualidade cultural. Nesse aspecto, o carnaval traz uma inversão temporária e consentida da ordem, onde alto e baixo se confundem. Essa metáfora do carnaval representa uma ligação com novas fontes de vitalidade, onde a fertilidade e os excessos proporcionam o transbordamento da energia libidinal e transformam o carnavalesco em uma poderosa metáfora da transformação social e simbólica. Não é simplesmente uma metáfora de inversão da estrutura binária, mas a transgressão dessa dicotomia ofuscando a determinação da ordem hierárquica e revela uma interdependência.
Desde o modernismo tem sido cada vez mais difícil manter o alto e o baixo distanciados nos seus modelos de classificação e o ‘popular’ vem sendo repensando na perspectiva do relacionamento, da resistência na visão de Gramsci onde o conceito ‘nacional-popular’ é um terreno de luta cultural e hegemônica ‘relativamente autônomo’ em relação a outros tipos de luta social. Hall cita Volochínov e o livro Marxismo e filosofia da linguagem, onde o caráter discursivo da ideologia é estabelecido e o domínio da ideologia e dos signos se coincidem. Esta obra exerce uma função crítica e faz um deslocamento da metáfora ‘base e superestrutura’ para a concepção ideológica do ‘discurso e poder’.
Hall cita Derrida, para definir que essa distinção alto/baixo está sob rasura e os conceitos de ambivalência, hibridismo e interdependência transgrediram essa estabilidade binária no campo cultural. Isso não significa que essa força metafórica ‘de cima’ e ‘de baixo’ sejam abandonadas. Eles continuam sendo fundamentais à organização das práticas culturais que não se situam fora do jogo do poder, na medida em que, através da cultura o poder opera para sobrepor, regular os mecanismos da hegemonia cultural. Portanto, como bem diz Hall, “aquilo que é socialmente periférico pode ser simbolicamente central”. (p. 226)

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