segunda-feira, 29 de abril de 2013

Resenha do Texto Grupos Étnicos e suas Fronteiras


Por  Mayara Oliveira de Jesus
No texto “Grupos Étnicos e suas Fronteiras”, o autor Fredrik Barth analisa o fenômeno dos grupos étnicos e suas persistências. Em tal perspectiva, o autor faz uma crítica aos estudos que negligenciaram as fronteiras sociais e os estudos empíricos sobre os grupos étnicos.
Barth se posiciona contra a ideia de que o isolamento geográfico e social sejam fatores que sustentam ou produzam a diversidade cultural. Ele aponta para a ideia de que é na interação em um dado sistema social que ocorre a manifestação da etnicidade.
Neste caso, para que se possa entender melhor o étnico, o referido autor nos mostra que é preciso compreender que tais grupos são categorias de atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores, ou seja, existe uma característica de interação e afinidade entre as pessoas pertencentes a um dado grupo.
Barth chama atenção sobre a necessidade analítica de busca pelos diferentes processos que se apresentam como formas de manutenção do grupo étnico, bem como sobre a ênfase na observação dos processos de constituição das fronteiras étnicas e suas manutenções.
Fredrik Barth define grupos étnicos como aqueles que compartilham valores culturais fundamentais, formados por membros que se identificam e são identificados por outros como tal. O autor reforça a ideia de que o quê define um grupo é a fronteira étnica e não a matéria ou conteúdo cultural que possamos encontrar, sendo que essas fronteiras, ao qual o autor relaciona os grupos, são fronteiras sociais e seus fundamentos são uma ideia que os grupos elaboram sobre uma origem ou cultura em comum.
Enfim, o autor propõe que as fronteiras são construídas e mantidas pelas unidades étnicas e por isso é possível percebermos a persistência dessas unidades. Porém, é importante destacar que para Barth, a cultura relacionada a um grupo étnico não está restrita pela fronteira. Desse modo, ela pode também variar sem ter relação com a sua manutenção.

sábado, 20 de abril de 2013

Cinema, memória e ditadura

Lista de filmes sobre a ditadura civil-militar brasileira.

Comente sobre os filmes abaixo e indique mais títulos:

O desafio (Paulo Cesar Saraceni, 1964);

Terra em transe (Glauber Rocha, 1967);

A opinião pública (Arnaldo Jabor, 1967);

Liberdade de imprensa (Curta-metragem - João Batista de Andrade, 1968);

Você também pode virar um presunto legal (Sérgio Muniz, 1971/2006);

Brazil: a report on torture (Saul Landau & Haskell Wexler, 1971);

Estado de sítio (Costa-Gravas, 1972);

Blablablá (Andrea Tonacci, 1975);

O Bom burguês (Oswaldo Caldeira, 1979);

Pra frente, Brasil (Roberto Faria, 1982);

Frei Tito (Curta-metragem - Marlene França, 1983);

Jango (Silvio Tendler, 1984);

Em nome da segurança nacional (Roberto Carminati, 1984);

Cabra marcado pra morrer (Eduardo Coutinho, 1985);

Feliz ano velho (Marcelo Rubens Paiva, 1985);

Nada será como antes. Nada? (Renato Tapajós, 1985);

Que bom te ver viva (Lúcia Murat, 1989);

Muito além do Cidadão Kane (Simon Hartog, 1993);

Lamarca (Sérgio Rezende, 1994);

O que é isso, companheiro? (Bruno Barreto, 1997);

Ação entre amigos (Beto Brant, 1998);

Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro (Silvio Tendler, 1999);

Dois córregos (Carlos Reichenbach, 1999);

Golpe de 64: a procissão está nas ruas (Mauro Lima, 2000);

Barra 68 - Sem perder a ternura (Vladimir Carvalho, 2001);

Araguaya - a conspiração do silêncio (Ronaldo Duque, 2004);

Cabra-cega (Toni Ventura, 2004);

Quase dois irmãos (Lúcia Murat, 2004);

Tempo de resistência (Andre Ristum, 2004);

Olga (Jayme Monjardim, 2004);

Vlado: 30 anos depois (João Batista de Andrade, 2005);

Contos da resistência (Getsemane Silva, Glória Varela, Marcya Reis, André Carvalheira, Guilherme Bacalhao, 2005);

O Quintal Dos Guerrilheiros (João Massarolo, 2005);

Hércules 56 (Silvio Da-Rim, 2006);

Zuzu Angel (Sérgio Rezende, 2006);

1972 (José Emilio Rondeau, 2006);

O ano em que meus pais saíram de férias (Cao Hamburger, 2006);

Sonhos e Desejos (Marcelo Santiago, 2006);

Dzi Croquetes (Erika Bauer, 2006);

Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2007);

Caparaó (Flávio Frederico, 2007);

Condor (Roberto Mader, 2007);

Corpo (Rossana Foglia, Rubens Rewald, 2007);

O profeta das águas (Leopoldo Nunes, 2007);

Tira os óculos e recolhe o homem (André Sampaio, 2008);

Cidadão Boilesen (Chaim Litewski, 2009);

Em teu nome (Paulo Nascimento, 2010);

O dia que durou 21 anos (Camilo Tavares, 2011);

Marighella (Isa Grinspum Ferraz, 2011);

Uma longa viagem  (Lúcia Murat, 2011);

Hoje  (Tata Amaral, 2011).

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O filme Hoje, com direção de Tata Amaral, estreia nos cinemas na próxima sexta, 19. Vencedor do Festival de Cinema de Brasília, o longa conta a história de Vera (Denise Fraga), uma ex-militante política que recebe uma indenização do governo em decorrência do desaparecimento do marido (Cesar Troncoso), vítima da repressão provocada pela ditadura civil-militar. Com o dinheiro, ela consegue comprar um apartamento, além de enfim poder ser reconhecida como viúva. Só que, quando está prestes a se mudar, recebe uma visita que altera sua vida. O filme traz uma nova perspectiva sobre o tema, já que se desenrola no “presente” sobre o “passado”. A memória e os fantasmas desse período, tanto de Vera, como da sociedade, parecem ser um dos temas fundamentais tratados pelo filme.

Assista ao trailer do filme:



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Cinema da África e sobre a África

Comente sobre os filmes abaixo e indique links

A Guerra do Kuduro (Henrique Narciso Dito - 2009)
Ficção sobre o kuduro, com atores músicos e encenado em Luanda.

É Dreda Ser Angolano (Rádio Fazuma – 2010) 65min.
Documentário sobre juventude em Luanda, música e cotidiano.

Luanda, a Fábrica da Música (Kiluange Liberdade e Inês Gonçalves -2009) 57min.
Documentário sobre o kuduro em Luanda, modos de fazer, dinâmicas, músicos e público.

Mãe Ju (Kiluange Liberdade e inês Gonçalves) 55min.
Documentário sobre a discoteca da Mãe Ju, em Luanda.

Na Terra Como no Céu (Inês onçalves)
Documentário com temática religiosa, em São Tomé e Príncipe.

Nu Bai, o Rap Negro de Lisboa (Otavio Raposo, 2006) 67min.
Documentário sobre o rap nos bairros de Lisboa. A diferença é de dez anos na realização para outro filme acima sobre o rap em Lisboa.

O Rap é uma Arma (Kiluange Liberdade, 1996) 35 min.
Documentário sobre o rap nos bairros de Lisboa.
Realização para outro filme acima sobre o rap em Lisboa.

Oxalá Cresçam Pitangas (Ondjaki e Kiluange Liberdade, 2008) 63min
Documentário sobre Luanda pós guerra civil, juventude, cotidiano e expectativas.

Tchioli (Kuluange Liberdade e Inês Gonçalves, 2009) 51min
Documentário sobre práticas tradicionais em São Tomé e Príncipe.

Outros Bairros (Kiluanje Liberdade, Inês Gonçalves e Vasco Pimentael) 54min
Documentário sobrtre bairros periféricos em Lisboa, juventude negra.

A Guerra Colonial (Joaquim Furtado, 2007)
Documentário em vários episódios, em média 60min cada, sobre a guerra colonial portuguesa em Angola.

Atlântico Negro: na Rota dos Orixás (Renato Barbieri,  1998)
Documentário sobre religião dos orixás entre Brasil e África.

Quilombos da Bahia (Antonio Olavo) 98 min.
Documentário sobre os quilombos do estado da Bahia.

Nhá Fala (Flora Gomes, 2002)
Ficção sobre jovem cantora em Bissau. Trata da transgressão simbólica A tragédia, augúrio ditado pela negra condição africana, é contornada por um poder maior, que a tradição substima, reprimida pelo colonialismo : a força da vida.

Cafundó (Paulo Betti e Clovis Bueno) 98 min.
Ficção biográfica sobre a vida de João de Camargo, Preto Velho milagreiro nas primeiras décadas do século XX.

terça-feira, 2 de abril de 2013

RAP E JUVENTUDE EM CRIOULO


Car@s,

Saiu num recente e interessante número da revista REALIS, da UFPE, um artigo de nossos colaboradores Miguel Barros (Guiné Bissau) e Redy Wilson Lima (Cabo Verde), cito o resumo publicado na revista:

"RAP KRIOL(U) O PAN-AFRICANISMO DE CABRAL NA MÚSICA DE INTERVENÇÃO JUVENIL NA GUINÉ-BISSAU E EM CABO-VERDE"



Resumo: nos anos de 1990, com a vaga de democratização na Guiné-Bissau e em Cabo-Verde, quer o PAIGC quer o PAICV, partidos tidos como “força, luz e guia do povo”, perdem esse estatuto, pondo fim simultaneamente à cadeia de domesticação dos espíritos, precipitando assim uma descoletivização social das organizações juvenis sob o prisma comunista. Isto fez com que os jovens reinventassem formas de sociabilidades no seio dos grupos de pares, num contexto marcado pela globalização e afro-americanização do mundo, em que a cultura hip-hop, através do seu elemento oral, o rap, aparece como veículo da liberdade de expressão e de protesto dos grupos urbanos em situação de maior precariedade. Este artigo pretende analisar de que forma os jovens guineenses e cabo-verdianos recontextualizaram através do rap, na nova conjuntura dos dois países, o discurso pan-africanista e nacionalista de Amílcar Cabral, tendo em conta o risco de branqueamento da memória coletiva e histórica; a suposta traição dos seus ideais pelos atuais políticos dirigentes; a necessidade de o resgatar enquanto guia do povo; e de representá-lo como
um MC (mensageiro da verdade)."
Na íntegra: http://www.nucleodecidadania.org/revista/index.php/realis/article/view/60/55

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Cinema e memória: 49 anos depois do golpe civil-militar

Por Danielle Noronha

No dia 31 de março de 1964 era instaurada a ditadura civil-militar, que governou o país por 21 anos. Hoje, 49 anos depois do início do golpe, em meio a revoltas e comemorações, a tensão pela memória sobre esse período está cada vez mais aparente. A construção da memória coletiva nacional relativa à ditadura está numa constante disputa entre as diferentes interpretações sobre esses anos, pelo fato de haver versões hegemônicas e outras versões menos evidenciadas, que reivindicam o direito de falar a “verdade” sobre esse passado. A criação da Comissão Nacional da Verdade, instalada oficialmente em 16 de maio de 2012, ampliou o espaço oficial para a difusão destas diferentes memórias e ainda mais o embate entre as versões. Porém, mesmo antes da instituição da comissão, outros meios eram utilizados como forma de dar visibilidade às memórias “silenciadas”, que não encontravam espaço nos documentos ou em outros meios oficiais de veiculação, e a arte se tornou um campo importante para a manifestação destas diferentes representações.

O cinema se destaca como uma das principais formas de arte no que diz respeito a construções idealizadas do que foi a ditadura. Primeiro, pela relação que a imagem cinematográfica, através de sua projeção, pode criar com o espectador, já que os filmes são altamente regulados pelo “efeito de real”, ideia que Barthes (2004) desenvolveu para a literatura, mas que também está presente nos filmes, que pode criar, reforçar ou modificar o imaginário nacional sobre o período, além de reformular o discurso sobre a nação. Para Barthes, o “efeito de real” consiste nas estratégias utilizadas nas narrativas realistas para descrever ao leitor o ambiente proposto, que representam o “real” a partir de sentidos conotados e denotados, de tal modo que sejam apagados os resquícios da artificialidade e criada uma relação entre leitor e texto, a partir das referências do que o leitor entende por “realidade”. Em segundo lugar, o cinema remete à relação entre arte e vida, já que os filmes podem ser entendidos como artefatos culturais que “falam” muito da cultura da qual fazem parte.

A construção da memória social sobre a ditadura civil-militar, então, em constante movimento e negociação, é compreendida por distintos agentes sociais de variadas formas. O cinema é apenas mais um lugar social em que se reivindica espaço para veiculação sobre pontos de vista deste período, em que é possível ter contato com novas versões, que no geral, evidenciam memórias que de alguma forma foram silenciadas. Neste sentido, optar por tematizar a ditadura significa fazer parte da tensão que busca (re)significá-la para um público presente. A rememoração também é um ato político.

Desta forma, por trás da representação cinematográfica e das disputas pela memória do período estão conceitos que fazem parte de todo esse cenário tenso, em que há uma briga pelos significados das palavras verdade e silenciamento. É a forma como as pessoas da nação compreendem o significado dessas palavras que está em disputa, pois esses temas estão atrelados à grande parte dos discursos sobre a ditadura e já fazem parte do imaginário sobre o período. O que se busca é indicar o modo como a sociedade entende e compartilha o passado, a partir da relação entre imaginário e memória. Esta questão está muito atrelada à ideia de reconciliação, em que o perdão ainda está sendo negociado, e a conciliação social ainda está em curso. Quando se trata de trazer questões relacionadas à memória da ditadura civil-militar são conotados sentimentos que envolvem silenciamento, além de esquecimento, ressentimento e perdão, que estão também relacionados com a forma com a qual o país passou do governo autoritário para o “democrático”, sem punições, e com a imposição de versões que minimizaram as atrocidades e as diversas violências que foram cometidas nesse período. Assim, o testemunho apresentado no cinema é utilizado como uma forma de “representação do passado por narrativas, artifícios retóricos, colocação em imagens” (RICOUER, 2007, p. 170), que ativa uma memória com o objetivo de não esquecer, de não silenciar.

A produção cinematográfica nacional acumulou um grande número de obras que trabalham com representações acerca deste tema. Os filmes trazem para o presente diferentes releituras sobre o passado, cada qual balizado por determinados aspectos do período, mas que de algum modo dialogam entre si, mesmo que no embate por ressignificações. Dentre os filmes, é possível encontrar distintos gêneros, que geralmente tiveram seus argumentos pautados em biografias, fatos políticos e/ou sociais marcantes ou até mesmo em experiências vivenciadas pelos autores das obras.

Principalmente a partir da “retomada do cinema brasileiro”, mesmo não sendo possível classificá-los como uma corrente estética única, é possível determinar diferentes momentos e estilos de trabalho, em que existem, por exemplo, filmes com caráter de denúncia, filmes de ação, filmes biográficos e, mais atualmente, filmes que buscam fazer uma releitura do passado a partir do presente, quando são trabalhados temas como os traumas, a vingança e a memória, como Corpo (Rossana Foglia, Rubens Rewald, 2007) e Hoje (Tata Amaral, 2012). As histórias podem ser baseadas em personagens reais, como Lamarca (Sérgio Rezende, 1994), Marighella - Retrato Falado do Guerrilheiro (Silvio Tendler, 1999) e Zuzu Angel (Sérgio Rezende, 2006); em acontecimentos reais, como Araguaya - a conspiração do silêncio (Ronaldo Duque, 2004), Hércules 56 (Silvio Da-Rim, 2006), Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2007) e Condor (Roberto Mader, 2007) ou em histórias ficcionais formuladas sobre um “período” real a partir da forma como o autor entende o passado, como Ação entre amigos (Beto Brant, 1998) e O ano em que meus pais saíram de férias (Cao Hamburger, 2006). Portanto, é possível unificá-los, ao menos, como filmes políticos, pelas características que estão presentes em seus discursos.

Nesse aniversário de 49 anos do golpe ainda há muitas dúvidas e lacunas sobre o período. Novas histórias estão encontrando espaço e muitas outras versões ainda precisam aparecer para que a sociedade possa (re)formular sua memória social sobre a ditadura, sem ressentimentos. Enquanto isso, é possível buscarmos filmes que foram produzidos – e conseguiram driblar a censura – desde 1964 até os dias de hoje, e neles encontrarmos algumas novas possibilidades de ver, interpretar e compreender esse passado.

Referências bibliográficas
BARTHES, Roland.  O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
NORONHA, Danielle Parfentieff de. Cinema, memória e ditadura civil-militar: representações sobre as juventudes em O que é isso, companheiro? e Batismo de Sangue. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2013.
RICOEUR, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.