quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

GEERTZ, Clifford. Centers, Kings, and Charisma: Reflections on the Symbolics of Power. In Local Knowledge: Further Essays in Interpretive Anthropology. pp. 121–146. New York: Basic Books, 1983. 
 Williams Souza Silva 

   Centers, Kings, and Charisma: Reflections on the Symbolics of Power (Centros, reis e carisma: reflexões sobre o simbolismo do poder) é o sexto capítulo do livro O saber local de Clifford Geertz, obra que reúne reflexões feitas em diferentes momentos de sua trajetória acadêmica, sobre temas como: o trabalho do antropólogo, o poder político, as artes e a literatura, entre outros. 
   A discussão desse capítulo gira em torno da noção de carisma e como se legitima o poder de determinadas figuras que se constituirão em “autoridades políticas”. Nesse percurso, Geertz parte de um estudo comparativo entre três monarquias, em períodos históricos diferentes e que também tiveram características muito distintas: a Inglaterra do século XVI, o Marrocos dos séculos XVIII e XIX e o Java Hindu do século XIV. 
    Partindo da perspectiva de Max Weber sobre o carisma, Geertz busca entender como em diferentes culturas este é usado para manter o poder de um líder. Para o autor de O saber local, a concepção de Weber sobre carisma não está completa e se apresenta de modo simplificado, pois cara compreender a relação entre a autoridade, líder e carisma depende da construção cultural de uma dada sociedade, ou seja, cada cultura terá princípios diferentes para eleição de líder. 
    Geertz retoma então a discussão de Eduward Shils sobre o tema, uma vez que o ultimo dá ênfase ao valor simbólico do carisma e em como este se relaciona aos centros da ordem social. Geertz argumenta: "se o carisma é um sinal de envolvimento com os centros da ordem da sociedade, e se tais centros são fenômenos culturais, e, portanto, historicamente construídos, as investigações sobre os símbolos de poder e sua natureza são empreendimentos semelhantes”.
    A comparação feita pelo o autor entre as três diferentes monarquias teve por objetivo de mostrar esse argumento. Na Inglaterra, o carisma da rainha Elizabeth se deu pela ideia de virtude, ela mesma se tornou um símbolo de tal representação. Na Indonésia, o rei era visto como o mediador entre deuses e homens, deste modo o carisma era produzido pela hierarquia – o que é difere da monarquia elisabetana onde o carisma se dava pela alegoria. Já no Marrocos, o processo da construção do carisma se assemelhava, segundo Geertz, a doutrina calvinista de predestinação e ao contrário dos exemplos anteriores, não havia um centro, os reis nem mesmo ficavam em um único local, estavam em constante movimento e esse era um elemento fundamental de seu poder. A castidade de Elizabeth, a magnificência de Wuruk, o movimento de Mulay Hasan demonstram diferentes centros de carisma e poder. 
    Para Geertz, a comparação entre essas monarquias corrobora com a ideia de que a cultura e seus símbolos interferem na estrutura e organização política. “É por esse motivo que mesmo que o tipo de figura carismática que nos interessa seja periférico, efêmero ou sem base solida – o mais extremado dos profetas ou o mais radical dos revolucionários – devemos primeiramente examinar o centro dos símbolos e concepções que nele existem, para que possamos entendê-los e saber exatamente o que significam” (215). 
     Ao fazer um paralelo entre essas diferentes culturas, em tempos históricos distintos, o que o próprio Geertz chama de “justaposição excêntrica”, o autor vai dizer que ao interpretar tais contextos chegamos ao entendimento do caráter simbólico da estrutura política. Segundo Frehse (1998), ao desenvolver esse Geertz “desloca a discussão sobre o carisma do plano puramente psicológico ou sociológico para o dos fenômenos culturais e, portanto, históricos que envolvem os indivíduos e nutrem as concepções de dominação e poder destes. Assim, leva a que se pense a própria política ocidental como imbuída de um simbolismo que lhe dá sentido e define até mesmo a sua natureza”. Além disso, sua análise acaba por afastar concepções generalistas sobre a cultura e sobre como funcional as sociedades.